Cannabis e Fisiculturismo: O que a Ciência e a WADA Dizem sobre o Treino dos Gigantes?
A relação entre cannabis e fisiculturismo é complexa e cheia de nuances. Com as recentes mudanças nas políticas antidoping da WADA, atletas e a comunidade científica buscam entender os reais impactos do CBD e THC na recuperação e performance. Descubra o que os gigantes do esporte pensam e o que os estudos mais recentes revelam sobre essa planta que está dando o que falar no universo fitness.
A Cannabis no Mundo do Fisiculturismo: Mitos e Realidades da WADA
O fisiculturismo é um esporte que exige uma “disciplina extrema” . Historicamente, a maconha (especialmente o THC, seu principal componente psicoativo) foi vista com maus olhos pelas agências esportivas, por potenciais efeitos nocivos à saúde e ao desempenho, além de ser considerada contrária ao “espírito do esporte” devido ao seu potencial de alterar o estado mental. Mas, como em um bom treino, as coisas evoluem!
Nos últimos anos, a ciência tem jogado uma luz diferente sobre a planta, impulsionando revisões nas políticas antidoping. Em 2018, a Agência Mundial Antidoping (WADA) deu um passo importante: retirou o canabidiol (CBD) da lista de substâncias proibidas. Essa decisão foi baseada na ausência de evidências de que o CBD melhore o desempenho esportivo e no reconhecimento de suas potenciais propriedades terapêuticas, como efeitos anti-inflamatórios e analgésicos, sem os efeitos psicoativos do THC. Isso significa que, para o CBD, a luz verde está acesa!
E o THC? Bom, ele ainda está na lista de substâncias proibidas em competição, mas com uma tolerância maior. Desde 2013, o limite urinário de THC permitido em competição foi elevado de 15 ng/mL para 150 ng/mL {target=”_blank”}. Essa mudança não significa uma liberação total, mas sim um reconhecimento de que um teste positivo para THC deve indicar um uso significativo ou frequente que possa influenciar o desempenho ou a saúde do atleta, e não apenas um contato casual ou uso recreativo distante da competição. O objetivo é evitar punir atletas por uso fora de competição que não afete o desempenho ou a saúde durante o evento.
Nota: Essas mudanças refletem pesquisas que sugerem benefícios medicinais da cannabis, como efeitos anti-inflamatórios e analgésicos, especialmente do CBD. No entanto, o THC em altos níveis ainda é considerado contrário ao “espírito do esporte” um conceito que abrange integridade, ética, jogo limpo e respeito à saúde do atleta e à competição. A WADA busca um equilíbrio entre a ciência atual e a manutenção dos valores fundamentais do esporte.
Gigantes do Ferro e a Planta: O que os Atletas Falam (e o que não Falam)
Quando o assunto é cannabis, os fisiculturistas de elite costumam pisar em ovos. Afinal, a carreira, a reputação e a conformidade com as regras antidoping estão em jogo! Vamos ver a perspectiva de alguns nomes importantes:
Renato Cariani (Brasil)
Ex-fisiculturista campeão e hoje um dos maiores influenciadores fitness do Brasil, Renato Cariani é parceiro de conteúdo de Júlio Balestrini. Ele é um defensor dos métodos tradicionais: treino intenso, dieta rígida e descanso de qualidade. Em suas redes, Cariani não advoga explicitamente o uso de maconha. Sua postura cautelosa reflete o conhecimento das regras antidoping: CBD liberado, THC com limite e proibido em competição. Sua ênfase recai sobre a otimização de variáveis controláveis e comprovadas para o desempenho e a saúde.
Felipe Franco (Brasil)
Bicampeão brasileiro de fisiculturismo, Felipe Franco é conhecido por sua performance nas competições. Ele já enfrentou polêmicas com substâncias proibidas (não maconha), o que o torna reservado sobre o tema. Franco prioriza técnicas comprovadas de recuperação, alinhado ao consenso da WADA de que não há evidências claras de melhora de desempenho com o THC. Sua abordagem é focada em estratégias de treino e nutrição que minimizem riscos de doping e maximizem resultados dentro das regras.
Wilson Miquelman (Brasil)
Veterano e multicampeão, Wilson Miquelman tem uma longa trajetória no fisiculturismo. Como coach, ele compartilha a visão de muitos técnicos: a recuperação deve vir de métodos testados, como cinesioterapia, fisioterapia, massagens e suplementos nutricionais comprovados. Miquelman provavelmente concorda com as diretrizes antidoping, permitindo o uso de CBD para recuperação e bem-estar, mas evitando o THC próximo às competições para não arriscar um teste positivo e as consequentes sanções. Ele prioriza a longevidade e a integridade da carreira de seus atletas.
Eduardo Correa (Brasil)
Fisiculturista profissional (IFBB) e competidor internacional, Eduardo Correa já participou do Mr. Olympia. Ele foca em tratamentos convencionais para dor muscular, como crioterapia, liberação miofascial e suplementos anti-inflamatórios certificados. Sua conduta reflete a prudência comum a atletas anti-doping: o CBD pode ser um complemento útil para a recuperação, mas o THC é estritamente evitado em períodos de competição para não cair nas sanções da WADA. A escolha de produtos com selos de certificação que garantem a ausência de THC é crucial para atletas como ele.
Kai Greene (Estados Unidos)
Um dos fisiculturistas mais famosos do mundo, Kai Greene é conhecido por sua filosofia e estilo de vida alternativo e por sua abordagem holística ao bem-estar. Ele já apoiou publicamente a legalização da maconha (em contexto social), mas não endossa formalmente seu uso no fisiculturismo como um ergogênico. Greene foca em treino, alimentação e conexão mente-músculo, alinhado à falta de evidências de que a maconha melhore diretamente a hipertrofia muscular ou a força. A ciência indica que canabinoides podem ajudar na dor e no sono, mas não dão vantagem física direta na musculação. Sua perspectiva é mais alinhada ao uso terapêutico e recreativo responsável, fora do contexto de performance competitiva direta.
Júlio Balestrini: A Visão do Mestre e Treinador
Júlio Balestrini é uma lenda do fisiculturismo brasileiro, bicampeão Overall do Arnold Classic Brasil e hoje um renomado treinador. Sua trajetória é pautada pela dedicação e profundo entendimento das regras e da fisiologia humana. Balestrini, ativo nas mídias sociais, não possui declarações públicas específicas sobre o uso de maconha como um recurso de performance, mas como um educador, ele aborda o tema sob a ótica das regras e da ciência.
Como treinador, ele orienta seus atletas a seguir diretrizes científicas e regulamentações oficiais. Ele destaca que o CBD não é proibido nos exames antidoping e que apenas um alto consumo de THC (acima de 150 ng/mL no exame de urina) levaria a uma penalidade. Balestrini, com sua natureza didática, informa sobre o cenário atual, reforçando a disciplina e o respeito ao espírito esportivo defendido pela WADA. Ele enfatiza a importância de produtos de CBD certificados e testados por terceiros para evitar contaminação cruzada com THC, um risco real em produtos não regulamentados.
Ciência e Canabinoides: O que os Estudos Revelam sobre Recuperação e Performance
A literatura científica sobre a cannabis especificamente no fisiculturismo ainda está engatinhando, em parte devido a restrições legais e à complexidade de conduzir estudos controlados. A maioria dos estudos foca em esportes gerais, parâmetros fisiológicos básicos ou condições clínicas específicas.
A WADA, por exemplo, revisou a literatura existente sobre o THC e concluiu que não há dados robustos que indiquem melhora de performance ligada a ele. Essa foi a base para a retirada do CBD da lista proibida em 2018 e o aumento do limiar de THC em 2013, reconhecendo que o CBD é seguro e não psicoativo, e que o limite do THC evita punições a usuários casuais. A ausência de evidências de efeito ergogênico é um fator chave.
Mecanismos de Ação e Potencial Terapêutico: Pesquisas sobre os efeitos dos canabinoides na inflamação e na dor sugerem um potencial terapêutico significativo. O sistema endocanabinoide (ECS), um complexo sistema de sinalização em nosso corpo, atua na modulação da dor, inflamação, humor, sono e apetite. O esforço físico intenso, especialmente no fisiculturismo, gera inflamação e microlesões musculares. O CBD, por exemplo, interage com o ECS e outros receptores, exibindo ação anti-inflamatória, analgésica e ansiolítica, o que, em teoria, poderia beneficiar a recuperação muscular, reduzir a dor pós-treino (DOMS – Delayed Onset Muscle Soreness) e melhorar a qualidade do sono. A melhora do sono, em particular, é crucial para a recuperação e o crescimento muscular, pois é durante o sono profundo que ocorre a maior liberação de hormônios anabólicos.
No entanto, faltam estudos controlados, randomizados e duplo-cegos em atletas de força para confirmar esses benefícios de forma conclusiva. Não há publicações consolidadas mostrando melhora direta de força máxima, potência ou hipertrofia associadas ao uso de maconha. Pelo contrário, a maioria dos achados indica efeitos adversos ao desempenho quando há alta intoxicação por THC: tempo de reação prejudicado, redução da coordenação motora, diminuição da motivação (efeito amotivacional) e comprometimento cognitivo. Além disso, o fumo de cannabis pode ter efeitos negativos na função pulmonar e cardiovascular, o que é contraproducente para atletas.
Em resumo, a ciência atual destaca possíveis usos medicinais – como alívio de dor crônica, redução de inflamação e melhora do sono – mas não encontra base para classificar a maconha como ergogênica (que melhora o desempenho atlético) no fisiculturismo. A distinção entre os efeitos do CBD e do THC é fundamental para entender o cenário científico e regulatório.
Além dos Halteres: Outros Profissionais e a Cannabis Esportiva
A discussão sobre cannabis e esporte vai além dos atletas e pesquisadores. Outros profissionais também contribuem para esse debate, trazendo perspectivas valiosas:
Fernando Paternostro (Triatleta e Empresário de Cannabis)
Mesmo atuando no triatlo, Paternostro é uma referência no diálogo entre esporte e maconha no Brasil. Fundador da comunidade Atleta Cannabis, ele defende que a revisão das regras da WADA (como a liberação do CBD) acompanha a ciência atual . Ele ressalta que o CBD pode ser usado por atletas sem risco de dopagem e explica que o limiar de THC foi elevado para evitar punições indevidas a usuários casuais que não buscam vantagem de desempenho. Sua visão técnica aponta que muitos mitos sobre performance foram baseados em informações ultrapassadas, e que a literatura revisada não sustenta que o THC melhore resultados esportivos. Ele advoga por uma abordagem mais informada e menos estigmatizada sobre o uso terapêutico de canabinoides no esporte.
Olivier Niggli (Diretor-Geral da WADA)
Em 2017, Niggli afirmou publicamente que o tratamento do THC no esporte é complexo e requer mais estudos. Ele reconhece a “diversidade de opiniões e percepções” sobre a cannabis e mantém que, segundo o código antidoping, o consumo de THC em competição continua proibido. Sua posição institucional reforça a cautela científica e a abordagem baseada em evidências da WADA. A preocupação da agência é multifacetada, abrangendo não apenas a ausência de melhora atlética comprovada, mas também os riscos à saúde do atleta e a manutenção do “espírito esportivo” – um conceito que valoriza a ética, o jogo limpo e a integridade da competição. A WADA continuará avaliando pesquisas sobre os efeitos na performance e saúde dos atletas para futuras revisões de sua lista de substâncias proibidas .
Médicos e Nutricionistas Esportivos Diversos
Profissionais de saúde esportivos observam teorias similares, mas com foco na aplicação prática e segura. Muitos reconhecem o potencial do CBD para controle da dor muscular pós-treino, redução da inflamação e melhoria do sono, mas ressaltam a falta de ensaios clínicos robustos e específicos em fisiculturistas para quantificar esses benefícios. Alguns citam pesquisas que associam o sistema endocanabinoide à recuperação muscular e à homeostase. No entanto, consistentemente, esses profissionais enfatizam o cumprimento rigoroso das regras antidoping atuais, citando a autorização do CBD e a proibição do THC em competição. Eles também alertam para a importância da procedência e pureza dos produtos de CBD, recomendando apenas aqueles com certificação de laboratórios terceirizados para garantir a ausência de THC ou outros contaminantes, minimizando o risco de um teste positivo involuntário. A educação sobre as diferentes formas de canabinoides e seus impactos é crucial para orientar os atletas.
Conclusão: Um Debate em Construção
As perspectivas sobre a maconha no fisiculturismo são variadas e ainda carecem de um consenso final, especialmente no que tange ao uso do THC em um contexto de performance. Entre os atletas mais conhecidos, poucos se posicionam diretamente a favor do uso de THC devido às implicações de doping e à falta de evidências de ganho muscular. Há quem acredite em potenciais efeitos analgésicos e calmantes do CBD para a recuperação, e quem prefira não arriscar devido às normas antidoping e à incerteza científica.
No meio técnico e científico, há mais consenso sobre pontos concretos, baseados nas evidências disponíveis:
- O CBD não interfere nos exames antidoping da WADA e possui propriedades terapêuticas reconhecidas, como anti-inflamatórias, analgésicas e ansiolíticas, que podem auxiliar na recuperação muscular e na melhora do sono.
- O THC continua vedado em competição (acima do limite de 150 ng/mL na urina) e não demonstrou aumentar força, potência ou hipertrofia. Pelo contrário, em altas doses, pode prejudicar o desempenho cognitivo e motor, além de apresentar riscos à saúde.
- A escolha de produtos de CBD deve ser criteriosa, priorizando aqueles com certificação de laboratórios independentes para garantir a ausência de THC e outros contaminantes, protegendo a integridade do atleta.
Em suma, o tema permanece em aberto e em constante evolução. Há sinais promissores de benefícios medicinais (como alívio de dor crônica e inflamação) e de recuperação (melhora do sono) associados ao CBD, mas faltam estudos focados especificamente no fisiculturismo para quantificar esses efeitos. As autoridades esportivas, como a WADA, seguem revisando evidências para equilibrar a segurança do atleta com as novas descobertas científicas e os valores do esporte. O consenso atual é cauteloso e divide-se entre potenciais vantagens terapêuticas do CBD e a prioridade de manter os padrões de competição limpos e justos, evitando o THC.
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Disclaimer: Este conteúdo é informativo e não constitui aconselhamento médico, legal ou profissional. Procure profissionais qualificados para orientações específicas e sempre consulte as últimas diretrizes da WADA e de sua federação esportiva antes de usar qualquer substância.
Fontes e Referências:
- Julio Balestrin – Idade, peso, títulos e história. Globo Esporte, 01/09/2024.
- PATER N. – Cannabis & Doping, Portal Cannabis & Saúde, 27/01/2024.